sexta-feira, 16 de abril de 2010

Voto mercadoria: mais uma bizarrice da nossa democracia à brasilera

Perdoem-me os caríssimos leitores e leitoras deste blog pela minha insistência em estar um caroneiro nato hoje. Novamente pegarei uma carona com o nosso vereador Liberato Costa Júnior (permita-me, prezado Liberato, mas é um privilégio pegar carona em vossas palavras), que concedeu entrevista à nossa colaboradora Paula Brukmüller.
Desta vez, a fala que vou “arregar” carona é a seguinte: “O problema é que nas periferias o estômago fala mais alto que a razão. Ainda existe o coronelismo, a troca de votos por dinheiro.”
Mais uma vez nosso querido vereador exala sapiência e honestidade – com a devida licença conceitual que os acadêmicos trabalham para o termo “coronelismo”, que teoricamente deve-se referir apenas à prática sistêmica da política brasileira durante a Primeira República (caso queiram, entendam melhor aqui).
O fato é que realmente ainda subsistem, no Brasil, velhas práticas políticas, torpes e bizarras, como a compra ou troca do voto – o chamado voto-mercadoria. Isto é mais uma vileza do nosso sistema político. Suas causas, entretanto, são extremamente complexas.
Liberato Costa júnior faz sua avaliação de um ponto de vista econômico e social, quando diz que “O problema é que nas periferias o estômago fala mais alto que a razão”. Acho uma avaliação bastante coerente – embora não explique tudo. Os desdobramentos de uma possível análise é o que torna o enunciado de Liberato de uma agudeza extrema.
O que estou melhor habilitado a falar é que alguns estudiosos do tema, como Marcos Vinícius Vilaça e Roberto Cavalcanti de Albuquerque, autores de Coronel, Coronéis, lidam com o assunto fazendo uma análise histórica de como o voto de cabresto passou para o voto mercadoria, ao longo do século passado.
Nos tempos áuricos do coronelismo na nossa Primeira República (1891-1930), a coerção nas eleições era uma prática bastante corrente. Era o chamado “voto de cabresto”. Os eleitores eram coagidos pelos capangas dos chefes políticos, ou pelo próprio coronel mesmo, a votar em tal ou tal candidato (qualquer semelhança com o que assistimos nos morros cariocas não é mera coincidência, entenda aqui).
Com o passar dos anos, nos idos da primeira metade do século XX, foi surgindo uma nova prática que guiava a escolha dos eleitores: o chamado voto mercadoria. A análise dos autores citados se dá no sentido de quê os eleitores, com o tempo, foram tomando consciência da importância capital de seus votos, e passaram a exigir coisas em troca.
Votos eram “trocados” por vestidos, paletós, chapéus, ou mesmo o pirão no dia das eleições. É uma modalidade do famoso “toma lá, dá cá”. Nesse meio todo, a compra dos votos também tem seu lugar reservado nas práticas eleitorais no Brasil.
Não me aventurarei aqui neste a post a fazer uma análise mais acurada – teria de lidar com questões bastante delicadas e complexas, como mentalidades, cidadania, corrupção, etc.

Você pode continuar a ler mais sobre o assunto em nossa próxima matéria publicada aqui neste blog. A matéria (intitulada “Quanto vale o seu voto?”) fala justamente sobre a compra de votos.
Leiam, e reflita...

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