terça-feira, 27 de setembro de 2011

Corrupção e o "jeitinho"

As diversas manifestações populares do último "7 de setembro", contra a corrupção na política brasileira, revelam uma tomada de consciência da sociedade civil. Contudo, quantos estão cientes de que a mudança deve começar a partir de cada um de nós? Acreditou-se por largo tempo que seria possível a construção de uma sociedade justa e democrática, apenas mobilizando multidões, derrubando ditadores, realizando eleições e protestando contra as práticas corruptas dos governantes. A História, por sua vez, tem mostrado que a construção de tempos novos exige, obrigatoriamente, novas condutas de todos, mudança profunda nas subjetividades. Ou seja, de pouco adianta reclamar posturas éticas aos governantes e instituições políticas, se até mesmo os mais esclarecidos e escolarizados não estão dispostos à renovação de suas práticas cotidianas. Diz o sociólogo José de Souza Martins, em O poder do atraso: "A política do ´presentinho´ vai desde a universidade que se rebela contra a corrupção, até a vida paroquial e até os mais inesperados recantos da vida social. (...) Os que nada têm para doar, têm ainda o comportamento subserviente... E de qualquer modo, têm o débito moral que pode ser pago politicamente. (...) Rigorosamente, pois, por um conjunto enorme de práticas, condutas e concepções relativas à ideia do favor e da retribuição, pode-se dizer que o conceito de corrupção como se difunde na sociedade brasileira hoje, atinge não só alguns políticos... (Mas) quase toda a população, sem disso ter consciência, está de algum modo envolvida em corrupção". Atire a primeira pedra quem não pratica "corrupção" no dia a dia. No popular: avançar sinal vermelho, jogar lixo na rua, furar fila, ignorar faixa de pedestre, "agradar" funcionário para conseguir algo... Dizemos que o Brasil é assim mesmo, é apenas um jeitinho... Mas queremos serviço público decente, cumprimento das leis, ética dos políticos.

E assim, ao longo de gerações, vamos perpetuando no tecido social práticas clientelistas e antiéticas mescladas a uma ideia cidadã equivocada, focada no outro ou restrita às instituições sociais.

MARCOS JOSÉ DINIZ SILVA
historiador, professor universitário

Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1047065

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