Brasília (Sucursal) Em um discurso em tom sóbrio, sem grandes arroubos de emoção, mas com intenso tom crítico, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) se despediu oficialmente ontem da tribuna do Senado Federal, Casa para a qual não conseguiu se reeleger, na avaliação dos senadores aliados, devido à interferência direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Três vezes governador e uma vez senador pelo Estado do Ceará, Tasso Jereissati manteve até o fim os ataques ao presidente Lula, não somente quanto à atuação do presidente contra a sua reeleição, mas ao governo do presidente desde o seu primeiro mandato, há oito anos.
Tasso não lamentou sua derrota, ao contrário, deixou claro que ela representa para ele uma vitória moral e política. "Seria muito mais fácil render-me à chantagem e à pressão, cedendo diante de um acordo que facilitasse meu caminho. Mas este caminho seria a negação de minha história. Seria a negação dos meus compromissos com os cearenses e com o povo brasileiro. Se assim o fizesse, trairia os ensinamentos de meu pai, a quem sempre busquei honrar. Perdi uma eleição, mas não perdi minha história".
O primeiro ataque de Tasso foi direto para a presidente eleita, Dilma Roussef, ao afirmar que não cabe neste momento no Brasil a recriação da CPMF. "O problema da saúde não é de recursos, mas de gestão. Qualquer tentativa de recriação da CPMF hoje, nada mais seria do que um evidente estelionato eleitoral, vindo de uma candidata eleita que se comprometeu com o Brasil em diminuir a carga tributária".
Tasso defendeu o ferrenho controle dos gastos públicos, a retomada das reformas e criticou a falta de critérios técnicos para a distribuição dos ministérios do futuro governo, que deve subir das atuais 38 pastas do governo Lula para 40 ministérios no governo Dilma.
O senador cearense discursou por mais de meia hora, mas sua manifestação na tribuna durou quase três horas, já que todos os senadores presentes ao plenário quiserem render sua homenagem e fazer apartes ao discurso de Tasso Jereissati. Ao falar sobre seu papel na oposição ao governo Lula, Tasso lembrou que foi ele uma das primeiras pessoas a alertar a sociedade sobre a irregularidade no trânsito do então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, nos corredores do Legislativo e do Executivo.
"Tive o desprazer de tomar conhecimento de uma figura até então mais afeta aos subterrâneos partidários, Delúbio Soares. Atentem para o absurdo: o tesoureiro do PT transitava sem o menor constrangimento, até mesmo neste plenário, em colóquios e cafezinhos com representantes de megaempreiteiras e senadores da base aliada. Do que estariam tratando, qual o seu interesse comum? Denunciei essa perniciosa relação. Mas, para minha enorme decepção, o que sobreveio foi um processo por injúria contra mim no Supremo Tribunal Federal, movido pelo Partido dos Trabalhadores e por Delúbio".
Denúncias
Em um tom que causou réplica do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), único petista presente à sua despedida, o senador Tasso Jereissati elencou os escândalos que na sua opinião marcaram o governo Lula. "Chama a atenção o fato de que nada menos que dois ministros da Casa Civil, José Dirceu e Erenice Guerra, caíram por envolvimento em escândalos. Fica claro que ali, no coração do governo, era onde a serpente punha seus ovos. Bingos, Celso Daniel, Vampiros, Toninho do PT, Correios, Sanguessugas, Dólares na Cueca, Francenildo, Aloprados, ONGs, Bancoop, Getech, Gautama para citar apenas alguns, são verbetes da enciclopédia de escândalos que envolveram o Governo, o Partido dos Trabalhadores e seus aliados".
Tasso Jereissati iniciou a carreira pública em 1986, aos 38 anos, quando foi eleito governador do Ceará.
Em 1994, foi eleito mais uma vez para o cargo, sendo reeleito em 1998 e tornando-se apenas o segundo político a governar o Estado por três vezes em quase 110 anos de história republicana. Ao fim do mandato, em 2002, foi eleito senador da República.
Fonte: Jornal Diário do Nordeste
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